quarta-feira, 9 de julho de 2008

Uma gota no oceano

   Minha irmã não gosta de telejornais. Ontem, enquanto assistíamos juntas ao Jornal da Globo, disse que "as pessoas têm que ter muito estômago para ver isso". Concordo. Diante de uma realidade tão opressora, por que repreender aqueles que preferem a alienação? (Pois é... Acho que já é hora de tirar umas férias dessa avalanche de idéias marxistas.) Na minha singela e humilde opinião, as produções jornalísticas não deveriam ser simples narrativas dos intrincados enredos da política e da economia ou seqüenciais de tragédias. Se bem que elas não são apenas isso. Sempre tem umas reportagenzinhas para relaxar, sobre moda, esporte ou outras coisinhas. Eis o formato atual do jornalismo brasileiro. Reconheço que não é de todo ruim. Cumpre sua missão de informar. Contudo, sempre que vou assistir a um telejornal, tenho a sensação de que algo está errado. A forma como as notícias são abordadas parece relegar o público a uma condição de incapacidade diante dos fatos. Talvez só eu me sinta assim... Talvez seja apenas mais uma das minhas numerosas, digamos, anomalias. Mas não posso evitar. A grandiosidade dos acontecimentos (os intrincados enredos, lembra?) me reduz a uma estudante de dezessete anos impotente, que janta no sofá enquanto todo o resto desmorana.
   Foi baseada nessa sensação - e também na estranha e até absurda vontade que eu tenho de "salvar o mundo" - que eu decidi como eu quero que seja o meu jornalismo. Quero fazer um jornalismo da esperança. Quero mostrar os heróis de todo o dia, as pequenas e valiosas contribuições que algumas pessoas - seres humanos, com seus defeitos, problemas e necessidades - dão para a construção de uma realidade mais acolhedora (primeiro informe do noticiário da esperança: minha amigona Luana, também estudante de Comunicação Social da UFPI, machucou o pé ao socorrer uma senhora prestes a ser atropelada. Faço minhas as palavras do nosso colega Jefferson Snard: "quero ser igual à Luana quando eu crescer".). Quanta gente já dedicou sua vida a uma boa causa? Quanta gente já se sacrificou pelo bem do planeta? Quantos médicos, juristas, professores, ecólogos, jornalistas e tantos outros profissionais abandonaram carreiras promissoras para aplicar seus conhecimentos em ações solidárias? Muitos, tenho certeza. São essas pessoas que me fazem acreditar que a humanidade vale a pena. Não é a cúpula do G8 nem são as FARC.
   Para ser sincera, sou mesmo apenas uma estudante de dezessete anos. Não entendo muito das oscilações da bolsa, nem de esquemas de lavagem de dinheiro, nem das decisões do G8. Não nego que é uma deficiência minha, e estou disposta a corrigi-la. Tudo isso é, de fato, muito importante para o nosso destino. Entretanto, apesar de não entender muito dessas coisas, entendo muito bem os sorrisos dos meus mais caros amigos, entendo de superação e esforço, entendo o que é lutar pelo que se acredita. E, como disse Luther King, "é com essa convicção" que eu vou tentar "arrancar deste oceano de desespero uma gota de esperança".
   Ingênuo? Utópico? Pode ser. E é, admito. Mas sonhos e utopias são bons alicerces, e eu quero acreditar nos meus.

"Deve ser de cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos 30
E no meio de uma depresssão
Te ver e ter beleza e fantasia...
"

"Vamos fazer um filme"
, Legião Urbana.

P.S.: outro dia, liguei 102 para conseguir o telefone do SETUT. Chamou uma vez, e logo depois ouvi uma gravação bem conhecida: "Este número não existe. Ligue 102 para informações."

^_^

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