sábado, 23 de agosto de 2008

"Que idiotice. Esse circo faz a gente parecer um bando de palhaços."¹

   Votarei pela primeira vez este ano (mais uma responsabilidade trazida por minha independência jurídica...). Apesar de considerar nossa "política" deveras estafante, prestei-me a assistir ao horário eleitoral, a fim de escolher candidatos de forma consciente (um velho discurso idealista). E, conforme esperava, assombrei-me com tamanha falta de respeito para com o cidadão brasileiro.
   Certa vez, no percurso entre minha casa e a universidade, a pilha do meu MP3 Player acabou enquanto eu ouvia Legião Urbana (meu pai disse que compraria logo o carregador, mas até hoje nada). Assim, tive que me submeter ao gosto radiofônico do motorista do ônibus (sem ofensas à classe, claro) e logo meus tímpanos foram dolorosamente estuprados em cinco velocidades. Desde então, pensei que eles não poderiam ser vítimas de um ataque mais danoso. Triste engano. Afinal, a humanidade sempre surpreende, não?



   Pois bem. As musiquinhas melosas dos canditados me parecem bem mais vergonhosas que o insuportável "crééééu". O espaço de propaganda eleitoral é - em tese - destinado à exposição de propostas concretas, e não à retórica grandiosa, porém vazia. Tampouco à ridicularização dos valores e à superficialidade dos candidatos que conseguem apenas repetir "eu sou o cara". O eleitor deveria recuperar o respeito por si mesmo, obrigando os políticos a respeitarem-no também.
   Creio eu que o problema está na própria concepção que fazemos de governo. O governante é o cara que manda. Tem incontáveis privilégios sociais e financeiros (vide os benefícios a que um senador "tem direito"). Essas vantagens incitam a candidatura de ambiciosos a/imorais em busca de status, que, naturalmente, privilegiam seus interesses egoístas no exercício do poder. Poder esse que corrompe e avilta. Mas governo não remete a poder. Governo remete à responsabilidade. Uma mudança de perspectiva: o governante não é o cara que manda e ganha uma nota, mas o otário que abdica de uma vida passiva e trabalha arduamente pelo bem da coletividade. Assim deveria ser. A remuneração exagerada percebida pelos políticos é um entrave ao progresso, não só no aspecto econômico/financeiro (sabia que você paga 1,5 milhão por ano para que nossos nobres representantes comprem ternos e encham a pança?). Ser líder é renunciar. O governo nada mais é que um servo do povo. "Não é o povo que deve temer seu governo, mas o governo que deve temer seu povo" (Alan Moore, em "V de Vingança"). Sob esse ponto de vista, a liderança é um fardo indesejado, e não um prêmio. Tanto melhor. Assim, seremos representados pelos otários (leia-se: éticos, honestos, altruístas).
   Se não mudarmos a mentalidade absolutista e provinciana da "massa", teremos que assistir ao sucateamento da administração pública, suportar musiquinhas melosas, engolir os desmandos de palhaços tragi-cômicos. Créu na gente.


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¹Episódio 22 de Bakuten Shoot Beyblade - "Lutanto Beyblade com os Astros", aos 2:51 min. Hã? Você sabe, né? Ócio, férias, nada melhor p'ra fazer...

sábado, 2 de agosto de 2008

Um pouco de melodrama...

   O passar dos anos me amoleceu. Ando muito sensível ultimamente.
   Às vezes, visito a quente e empoeirada salinha onde guardo preciosas recordações. Algumas delas me comovem até as lágrimas, corroendo minhas enevoadas retinas com saudades acridoces. Bagunças no corredor, cartas e bilhetes perdidos, carinhos e abraços e palavras. Gente que eu atazanava, batia, apertava, enchia o saco e amava. Químicas e Físicas e Matemáticas. As muitas coisas erradas que eu disse para a pessoa certa. Os tatamis pretos e azuis empilhados no ginásio. As aulas de Biologia assistidas na lan house. Mochilas entulhadas com dezenas e dezenas de mangás. Instantes de beleza sutil, quase poética. Saudade é um sentimento esquisito.
   Quando deixo a salinha para me concentrar no presente, mais crises de pieguice. Costumo contemplar as expressões distraídas dos meus amigos e colegas de Academia; ao fazê-lo, não posso deixar de me considerar uma baita duma sortuda. Gosto do calorzinho que se espalha por mim nessas ocasiões. É como se eu estivesse prestes a me afogar em areia movediça feita com ternura e algodão-doce. O céu, teimoso e resoluto, continua insistindo em seu clichê: ainda é azul e brilhante, apesar de tudo.
   Houve um tempo em que eu ficava procurando, em vão, o famigerado "sentido da vida". Uma época em que eu era criança demais, tola demais, egoísta demais. Sempre me perguntava por que o bicho-homem é tão apegado à sua existência acidentada, por que faz esforços absurdos para prolongar seus flagelos e transmitir seus legados. E quanto mais eu buscava as respostas, mais eu me perdia... Até que eu parei de me preocupar com isso. Aos poucos, fui descobrindo a luminosidade secreta de tudo que existe ao meu redor. E percebi o quanto as pessoas são importantes, o quanto são importantes seus sonhos e seus sorrisos, suas tristezas e seus abraços. Coisas valiosas demais, que não podem ser medidas, comparadas, definidas, calculadas ou compreendidas. 
   Mas voltemos ao presente. Acho que cresci um pouco depois de tudo. E é isso que eu quero continuar fazendo. Crescer, construir, melhorar em todos os sentidos. Conforme aprendi naqueles tatamis pretos e azuis, onde consegui meus machucados mais queridos: "aprender a cada dia um pouco mais e usar esse aprendizado todos os dias para o bem". Quero adquirir e produzir conhecimento, amar infinitamente todos os que iluminam minha vida das mais diversas maneiras, eternizar cada segundo feliz na minha salinha de recordações e, claro, salvar o mundo.
   Agora, só me resta uma daquelas perguntas metafísicas: por que, mesmo cercadas por todo esse esplendor que é a vida, um número incontável de pessoas ainda se desgasta por coisas vazias, como poder, território, supremacia racial, guerras, preconceitos, holocaustos e xenofobias? Dizem que Adolf Hitler era vegetariano e que considerava a caça um "desperdício da fauna inocente". Vai entender...



   Peço desculpas pelo conteúdo meloso. Eu devo estar ficando velha mesmo...

   Texto dedicado aos amigos que eu atazano, bato, aperto, encho o saco e amo.